segunda-feira, 20 de março de 2017

A LUZ, lembrando hoje o Equinócio da Primavera.

Filomena Barata

A LUZ

http://www.incomunidade.com/v32/art_bl.php?art=232

O despojamento, um exercício fundamental e desejável, não é sinónimo de ausência de complexidade.Porque até a luz contém todas as cores!
Talvez, de há uns tempos para cá, seja dos temas que tratarei com mais dificuldade. Talvez por um motivo apenas, porque é um dos que mais me fascinam.

E porque a Luz, no Presente geográfico de onde escrevo neste momento, Angola, é, como em todas as sociedades um elemento fundamental.

Mas a Luz aqui, que se transforma ao nascer e pôr do Sol num mundo com todas as tonalidades de uma grandeza que náo se consegue descrever, num elogio das cores que a compõem, é, durante o dia, quase sempre filtrada como que por uma névoa que a evaporação causada pelo calor provoca.

É uma Luz coada que poucas vezes permite ver o Céu do azul que conhecemos no Ocidente Peninsular.
 E inicio este texto quando o Céu resolveu estalar, trovejando, sem, contudo me ter dado conta de os Deuses se terem zangado, nem tão pouco os Humanos estarem de costas viradas para eles.

Zeus, certamente, resolveu accionar os poderes conferidos ao domínio do Olimpo, e acionar os seus atributos de rapidez, enviando raios até este ponto do Atlântico Sul.

Para os Egípcios, o deus egípcio da tempestade, dos trovões e do caos era Set (ou Seth). Sabemos através de uma lenda, que esse ser rude, bestial, assassinou o seu irmão Osíris.

Ísis, esposa de Osíris, desesperada com a sua morte procura e encontra o corpo do marido, conseguindo engravidar mesmo com ele já morto. Dessa união, nasce Hórus que Ísis esconde de forma a que Seth não saiba de sua existência, nem atente contra sua vida. Conta com a protecçáo de outras divindades, designadamente Rá, seguido de Toth, deus da sabedoria.

Numa outra lenda, ao invés, Set usa o seu poder para proteger Ra, o deus do Sol.

Na mitologia grega antiga, Zeus atirava flechas do céu quando fica enfurecido, a mesma arma que manejara com destreza para derrotar os inimigos, os Titãs, que o permitiu tornar-se o deus dos deuses. Era ele, Zeus, que tinha poder sobre os fenómenos atmosféricos, lançando a chuva com a sua mão direita e usando a sua força de forma destruidora, mas também para que fosse benfazeja com as plantações. Por isso, Zeus é representado na própria estatuária grega com os seus atributos: o relâmpago ou raio na mão direita, sendo também seus atributos a águia, o touro e o carvalho, que simbolizam reciprocamente a rapidez, a força, a energia e o poder do comando.

As flechas de Zeus brilhando por entre as nuvens fazem um barulho ensurdecedor, como descreviam os Antigos, povoando as suas mentes de medo, mas também de fascínio por táo grande poder.
 Do mesmo modo, os Gregos criam que os Cíclopes, os gigantes de um só olho (chamados Arges, Brontes e Estéropes,32), forjavam raios para Zeus, pai dos deuses do Olimpo, para lançá-los sobre os mortais.

Tal como Zeus e seu equivalente romano, Júpiter, o deus indiano das tempestades, Indra, é também o soberano dos deuses. Essa divindade vermelha e dourada usa também a sua flecha tanto para liquidar os inimigos como para fazer reviver aliados desfalecidos. Destrói demónios e serpentes, mas também é criador de vida, trazendo luz e água para o mundo.

O simbolismo associado à LUZ, à saída das trevas, encontra-se presente em quase todas as culturas e civilizações e religiões, desde épocas remotas.

Já na célebre «Alegoria da Caverna», parte constituinte do livro VI de «A República» de Platão, a Luz associa-se à ideia Libertação do Homem acorrentado que vive num mundo de Sombras. É através do conhecimento e da Razão, ou, numa palavra, da Luz, que o Homem se aproxima da realidade que, num primeiro momento, o ofusca.

Mas é quando toma contacto com o Sol, como fonte de Luz, da qual provém toda a Vida, os seus ciclos, o Tempo, e a energia que se apercebe como vivera destituído do conhecimento real.

Em muitas religiões ou mesmo ritos iniciáticos, a LUZ associa-se a esse mesmo conhecimento, mas ainda a uma força renovadora e plena de energia. Afinal é o dia que se sucede à noite como nos dá conta Mozart na sua «Flauta Mágica».

A Luz está, portanto, associada ao conhecimento, assumindo em muitas religiões um carácter de força celeste, a Luz divina ou Luz espiritual de que o culto do Espírito Santo é, claramente, uma manifestação. O despertar da Luz interior é, por sua vez, uma constante em rituais iniciáticos, tendo aqui como clara conotação o Conhecimento e o Crescimento Interior.

Lembro ainda Lúcifer, o Deus-astro dos Romanos, sucedâneo do Fósforo dos Gregos.

Lúcifer é a divindade que anuncia a Aurora de quem é filho, tendo outras designações como a Estrela da Manhã ou Estrela d’Alva; Héspero, Heósforo.

É este deus que em hebraico significa brilho e que os textos bíblicos de Isaías referem como representando o Mal, numa alegoria ao rei da Babiónia: "Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você que dizia no seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo’" (Isaías 14:12-14).

Lúcifer assume ainda nos Textos Sagrados, em Ezequiel, desta feita numa alusão ao rei de Tiro, os males a que o Homem e os tiranos se converteram: «Por meio do seu amplo comércio, você encheu-se de violência e pecou. Por isso eu o lancei em desgraça para longe do monte de Deus, e eu o expulsei, ó querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes. Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor. Por isso eu o atirei à terra; fiz de você um espetáculo para os reis. Por meio dos seus muitos pecados e do seu comércio desonesto você profanou os seus santuários. Por isso fiz sair de você um fogo, que o consumiu, e eu reduzi você a cinzas no chão, à vista de todos os que estavam observando. Todas as nações que o conheciam ficaram chocadas ao vê-la; chegou o seu terrível fim, você não mais existirá" (Ezequiel 28:11-19)».
É assim que a Luz de que Lúcifer era o patrono se transforma numa energia maléfica, ou seja na sua própria antítese, pois é através dos seus poderes e planos que reis e governantes terrenos tomam para si honras que só a Deus pertencem.

Mas subjacente à mesma ideia, esse castigo infligido aos deuses ou Humanos que pretendem alcançar aquilo que à Divindade Suprema pertence é também o mito Grego do Gigante Prometeu de quem Zeus temia o poder e que, segundo o mito, criou, a partir de um bloco de argila misturada com água, o primeiro Homem.

É Prometeu que vai roubar do Carro do Sol uma faísca e vem oferecer aos Homens o Fogo divino.

Desta e outras afrontas feitas ao Pai dos Deuses, Zeus enfurecido oferece aos Humanos Pandora, criada pelo deus Hefesto, e que, segundo o mito, abre uma Caixa e espalha sobre a Terra todos os males.

A Prometeu restou-lhe ser acorrentado no cume do Monte do Cáucaso, onde o seu fígado era devorado por uma águia, até ter sido libertado por Héracles desse flagelo.

Temos assim, em muitos mitos e religiões, um claro confronto entre a Luz e as Trevas que espelham a luta titânica que o Homem trava na sua caminhada para a Luz, enquanto Conhecimento e Saber, tantas vezes fustigado e castigado por desejar ser também detentor de algo que para elas deveria estar apenas consignado ao Divino.
Mas, ainda assim, o Homem, enquanto ser de Conhecimento e de Razão, prosseguirá a sua Viagem no sentido da LUZ, libertando-se de todas as forças que o desejem acorrentar!








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